Meio sério, meio brincando, o presidente boliviano, Evo Morales, pediu ontem ao governo brasileiro que "presenteasse" as duas refinarias da Petrobras no país que, pelo decreto de nacionalização, terão de passar ao controle acionário da empresa estatal YPFB.
Também confirmou que, caso não houvesse acordo com a Petrobras ou outra empresa dentro do prazo encerrado no sábado, as Forças Armadas tomariam suas instalações, como noticiou a Folha ontem.
"As duas refinarias custaram uns US$ 100 milhões. Para o Brasil, não é nada. Se eu fosse o Brasil, se fosse eu, as presentearia", disse Morales, com um leve sorriso, durante entrevista a jornalistas estrangeiros.
Localizadas em Cochabamba e em Santa Cruz, as plantas foram adquiridas em 1999 pela Petrobras e, sozinhas, abastecem praticamente todo o mercado de derivados de petróleo da Bolívia. É uma pequena parte do total de investimentos da empresa no país --US$ 1,5 bilhão, junto com as sócias. A Petrobras diz que as cede só com indenização.
A transferência das duas plantas e a renegociação do preço do gás são os dois grandes temas que ainda estão pendentes entre Petrobras e Bolívia. No sábado, os dois lados chegaram a um acordo sobre os novos contratos de exploração de gás nos megacampos de San Alberto e San Antonio, os maiores do país.
Sobre a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, Morales disse que "teremos quatro anos para renegociar não os interesses do Brasil e os interesses da Bolívia, mas o interesse de nossos povos. Repito o que disse outra noite: com o Brasil, temos casamento sem divórcio".
Morales agradeceu ao apoio das Forças Armadas durante o período final das negociações com as empresas, encerrados no sábado. "Se não houvesse novos contratos, com certeza teria ocorrido uma ampla mobilização das nossas Forças Armadas para exercer o direito de propriedade, como em qualquer outro país. Qualquer Estado, qualquer governo tem todo o direito de propriedade sobre seus recursos naturais."
A Folha revelou ontem que, a oito dias do fim do prazo para negociar os contratos, um emissário de Morales disse ao chefe da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, que a Petrobras seria tomada pelos militares caso não houvesse acordo até o sábado passado, véspera do segundo turno.
Sobre os contratos assinados com dez empresas entre sexta-feira e sábado, Morales previu que sejam enviados ao Congresso no dia 13 e aprovados antes do fim do ano.
O presidente elogiou bastante os colegas da Argentina, Néstor Kirchner, e da França, Jacques Chirac. Na avaliação do governo, a recente assinatura de um grande contrato de compra e venda de petróleo com a Argentina e o acordo com a francesa Total antes do prazo final contribuíram para que a Petrobras e outras empresas aceitassem as condições impostas pela Bolívia.
Questionado sobre a participação nas negociações, pelo lado boliviano, de um advogado americano ligado à estatal venezuelana PDVSA, Morales foi evasivo e se limitou a dizer que houve assessoria internacional, sem custo para o governo.
Source: Folha Online
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